quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sobre a dança do Ventre

"O homem que ainda não falava,
utilizou do gesto rudimentar para expressar
suas emoções num ritmo natural" (BREGOLATO, 2007)


Eliana Caminada diz que as primeiras manifestações da dança remontam ao período Paleolítico inferior, e que passando por todos os períodos históricos seguiu sofrendo processos evolutivos concomitantemente ao homem; que enquanto se empenhava em sobreviver, conseguiu tempo para dirigir sua atenção à atividade espiritual e tornou-se de algum modo artista. Onde a dança nasce da necessidade de expressão emocional, de uma grandeza inerente ao Ser.

Hoje em dia, crê-se que a dança em seu ínicio tinha como alvo a imitação das forças da natureza, sua magia e sua fauna, resgatando o que um dia cercou nossos ancestrais, pois através da dança era possível concretizar os símbolos e compreendê-los, unindo-se ao fluxo da vida e ao sagrado. (SCÁRDUA, 2007.)

Retornando ao Paleolítico, com o culto à Deusa- Mãe, nos remete ao caráter sacro do útero, sabemos que através da dança louvavam a Deusa, sendo a maneira que cada mulher encontrava para entrar em contato com o divino, crendo que ao conectar- se com a Deusa seriam agraciadas com a fertilidade e partos tranquilos, nos e em seus ritos dançavam com o ventre desnudo e exposto, fazendo-os vibrar e ondular. (BENCARDINI, 2002)

Ao final do Neolítico, Idade dos Metais, findava a cultura tribal, surgindo dois tipos de culturas dialéticas: a campesina e a senhorial. A campesina foi responsável por dar uma conotação sexual à dança, atraves da representação imitativa dos cortejos e da sedução. Os egípcios atribuiam a criação da dança a Deuses ligados aos ritos de fertilidade que nos levam a aproximadamente 5000 a.C., acreditando que só os camponeses egipcios, realmente conheceram a dança em ritos de fecundidade, assim como algum dançarinos dos templos.
Por volta de 1400 a.C. a dança deixa de ter uma finalidade ritualística, mudando por completo. Na transição do devocional e social para profissional e teatral estas danças firmaram uma divisão de trabalho e distinções de uma cultura de nobre classe urbanizada, que visava a profissionalização dessas danças, já impregnadas da cultura senhorial, perdendo suas características campesinas. (Caminada,1999)

Lucy Penna conta que a dança do ventre foi à primeira manifestação do feminino, tendo resquícios de diferentes culturas, embora aponte para o Egito antigo, nos ritos de fecundidade elaboradas por sacerdotisas, ou que ela seja ainda mais antiga proviniente dos rituais sacros dos Sumérios. (PENNA, 1993)

Em vários lugares foram encontrados indícios desse tipo de “ritual” como : Anatólia, África, Mesopotâmia, Egito, Hawai, etc., desde os primórdios de nossa história; documentados, pintados e esculpidos, por todo mundo. O progressivo desaparecimento dos cultos de fertilidade, devido a hegemonia do patriarcado nas sociedades antigas e posteriormente o advento do monoteísto, relegou essa dança um segundo plano, a marginalidade e a clandestinidade. Assim a dança se manteve e se transformou em divertimento nas regiões onde a religião era menos rígida, e também com os povos nômades, que viviam a margem da sociedade, especialmente entre os ciganos. Esse processo se acentua durante a expansão do Cristianismo, e principalmente do Islamismo, onde tentaram abafar a dança por causa de sua ambivalência. Os primeiros registros que se tem da dança como hoje conhecemos, e que de alguma forma foram responsáveis pelas mudanças e idéias fantasiosas acerca dessa modalidade, ocorreram no século 18, por um ocidental, o pesquisador alemão Carsten Niebuhr, durante uma expedição ao Yemen em 1762. Onde ele se deparou com as dançarinas numa parada pelo Cairo. Alguns anos mais tarde, em 1798, se realizou a primeira expedição científica para o Egito. Napoleão Bonaparte levou em sua equipe artistas como Delacroix, Gérôme e Flaubert. Vindo daí o nome que eles usaram para descrever o que viram: danse du ventre. Também conhecida como Raks el shark (dança do leste) pois foi ao leste do Mediterrâneo, nos países Islamitas, que ela se conservou melhor, atingiu um grau maior de aperfeiçoamento e se caracterizou. Ela se conservou viva, pois as mulheres dançam entre si, sem nunca terem tido aulas. Foi algo passado de geração à geração entre mães e filhas. (Buonaventura, 1998)

Um comentário:

  1. Shakty, como sempre, suas explicações são objetivas e muito esclarecedoras!

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